Era a primeira vez em uma semana que Joana
conseguia comer em frente aos colegas. Ainda estava muito envergonhada com os
últimos acontecimentos. Houve dias em que esteve aborrecida com seus amigos
pela infinidade de formas depreciativas que eles conseguiam chamá-la.
Joana era uma bela adolescente de 13
anos. Estava transformando-se em uma linda garota. Seus cabelos eram negros,
sua pele de um branco amendoado e seus lábios apresentava contornos marcantes.
Atrevo-me a dizer que em breve tornar-se-ia uma linda mulher.
Algo que não a poupava dos insultos
juvenis. Estava se acostumando com os tradicionais novos nomes: Joana Boca de
Ferro, Freio de Burro, Boca de Lata. Até seus melhores amigos estavam passando
dos limites. Houve dias em que seu único desejo era cavar um buraco fundo na
cerâmica azul da sala de aula em que ela passava partes de seus dias, cavar até
que a magna a transformasse em pó. Outras vezes queria falar mal, correr,
bater, mas só mantinha a cabeça baixa e os olhos vagos, como quem diz: “isso um
dia acaba é só não ligar”. E de verdade estava acabando.
Comeu com gosto um lanche vendido na
cantina escolar e um suco de maça, a maça deveria ser das vermelhas como
sangue, havia algumas bolachas de nata trazidas de casa. Trazia todos os dias
algo de sua casa, durante essa semana fatídica quem se beneficio de todo esse
infortúnio foi Arthur. Seu amigo roliço, um garoto de traços normais, por outro
lado devia ter uns vinte quilos a mais que a maioria dos alunos de sua idade.
Ele mais que qualquer outro, sabia como a semana de sua amiga estava horrível.
Pareciam mais próximos, mais chegados. Ele estava adorando a companhia dela,
sempre os dois por uma semana. A melhor de sua vida.
Ela nunca sentiu que aquele menino que
todos zuavam podia ser um amigo tão leal e legal. Achava-o até bonito. Ele por
outro lado, nunca teve coragem de aproximar-se de alguém tão popular como ela.
Mesmo sendo colegas de classe/amigos desde o jardim, eram distantes. Essa
semana eram atrapalhados somente pelos insultos e olhares zombeteiros.
Quero
ressaltar que algumas coisas podem mudar, Joana deixaria de ser o centro das
gozações em pouco tempo. Caso não aparecesse outra Boca de lata, orelha de
bater bolo, todas as grandes idéias mirabolantes dos meninos do fundo da sala
voltariam à rolha de poço, barriga de leitão, etc. Se isso acontecesse, de que
lado ficar. Como virar as costas a alguém que passou a exercer em sua vida um
papel tão importante? Faltava pouco e ela sabia disso. As colegas estavam
reintegrando à antiga amiga. Seria queimação de filme andar com o gordinho.
Os dentes não doíam mais, por outro lado
o coração estava aquecido por uma sensação estranha. Acalmava-se somente ao
lado de Arthur. O fim de semana estava chegando e com ele um convite muito
especial. Um cinema. Como dizer não aquele fofo? Como aceitar e esconder das
amigas? Como eram amigas se não estiveram com ela quando ela precisou? Como
saber que à hora era essa? Como era estar afim de alguém? Como saber, como
fazer? Eram muitas perguntas, estava sem saída. Resolveu correr. Ainda recebeu
um SMS do pequeno apaixonado pendido desculpas e querendo recuperar a amizade
da semana anterior.
Como responder, ela ainda tinha treze
anos!